O índio pede socorro

*Tia Eron é deputada federal e presidente do PRB na Bahia.

Publicado em 19/4/2015 - 00:00 Atualizado em 5/6/2020 - 18:32

Esta data poderia ser comemorada com entusiasmo se os indígenas fossem respeitados e essa população deixasse de ser dizimada pelo poder econômico que fere, espanta, amedronta e mata. A história do dia 19 de abril é muito interessante, mas mostra que já em 1940, quando foi realizado no México, um congresso interamericano exatamente para discutir a situação dos índios, apenas compareceram autoridades governamentais de países da América. Os líderes indígenas também foram convidados para as discussões, mas como estavam desconfiados, resolveram não aparecer nos primeiros dias.

O tempo passou e depois de reuniões acaloradas, os índios aceitaram o convite porque entenderam a preocupação dos organizadores do congresso que se aliaram à luta pela sobrevivência dos “caras pintadas”, dando uma prova de que não comungavam com o terror promovido pelos “homens brancos”. A participação dos líderes indígenas no evento ocorreu no dia 19 de abril e o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, criou em 1943 a data para comemorar o Dia do Índio, através do decreto 5.540.

O que me chama a atenção é que tudo isso aconteceu no século passado e as aberrações, mesmo com o esforço do governo, ainda ocorrem. Hoje no Brasil, é grande o número de índios que vivem em situação de pobreza, sem direito à escola, sem casa e sem segurança. Os conflitos ocorrem envolvendo madeireiros, posseiros, sem terra e “donos” de terra que promovem o desrespeito e a diminuição das populações indígenas. Parece até que essas pessoas esqueceram que em 1500, quando os portugueses chegaram ao Brasil, só encontraram índios e uma natureza exuberante que encantou a todos.

O problema foi justamente o encanto. Os olhos dos colonizadores cresceram e os índios começaram a ser humilhados, presos e escravizados por se tratar de mão-de-obra barata. Com o passar do tempo, os conflitos por terra ocorreram com frequência e em 1961 foi criada uma reserva como forma de preservar a cultura, os povos indígenas e a natureza. O Parque Indígena do Xingu foi o primeiro lugar demarcado, visando à preservação dos pré-coloniais.

A defesa dos primeiros moradores da terra chamada Brasil, se fortaleceu com a criação da Fundação Nacional do Índio (Funai). O órgão passou a definir políticas de proteção às comunidades indígenas brasileiras, mas, infelizmente, vira e mexe a imprensa divulga conflitos e mais conflitos envolvendo índios e fazendeiros. O quadro é triste. No Extremo Sul da Bahia, os conflitos ocorrem entre fazendeiros, sem terra e índios.

Para garantir seus direitos, quarta-feira (15), cerca de dois mil índios representando 12 etnias fizeram protesto na Assembleia Legislativa, em Salvador. Já em Brasília, um dia depois, centenas deles participaram da sessão na Câmara em homenagem ao Dia do Índio. Na pauta de reivindicações, o avanço da reforma agrária e a revogação da PEC 215 que tira do Executivo o poder de demarcar terras indígenas e passa para o Legislativo. Quando vejo esse tipo de manifestação fico inquieta por não entender como o homem ainda é capaz de colocar interesses pessoais à frente de qualquer discussão.

Diante desses fatos, fica a reflexão para que toda questão indígena seja analisada com mais atenção. Os historiadores dizem que antes da chegada dos europeus, haviam cerca de 5 milhões de índios no Brasil e 100 milhões no continente americano. A minha preocupação é para evitar que no amanhã, o índio deixe de existir e esses povos sejam apenas representados nas escolas, por exemplo, através de figuras e fotos ou pelos cânticos de Baby do Brasil ao afirmar que “todo dia era dia de índio e agora ele só tem o 19 de abril”.

 *Tia Eron é deputada federal e presidente do PRB na Bahia

Reportar Erro
Send this to a friend