Crivella fala sobre pré-candidatura ao Governo do RJ

Republicano concede entrevista exclusiva ao jornal Brasil Econômico

Publicado em 22/11/2013 - 00:00 Atualizado em 18/6/2020 - 11:28

Ontem (21), o ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella (PRB), foi destaque da entrevista exclusiva concedida ao jornal Brasil Econômico, que abordou sua pré-candidatura ao governo do Rio de Janeiro. O republicano confirmou que deve lançar-se novamente pelo PRB ao desafio de disputar as eleições para o Palácio Guanabara. “Estou sendo candidato a pedido do povo”, comenta. Pesquisas recentes apontam Marcelo Crivella entre os favoritos da população com uma massa de 23% de intenções de voto. “Esse foi o chamamento. Nenhum homem público, num momento de convulsão da vida pública do meu estado, pode se negar a esse chamado”, observa Crivella.

Ainda, na entrevista, Crivella disse acreditar na bandeira do idealismo e da renúncia às vaidades pessoais para atrair eleitores, especialmente, os mais jovens. O republicano conversa também sobre religião, o Governo do Rio e sobre sua gestão frente ao Ministério da Pesca. Confira abaixo a entrevista na íntegra do jornal Brasil Econômico.

Por Jamile Reis / Agência PRB Nacional
Fotos: Douglas Gomes

“Do Jornal Brasil Econômico

ENTREVISTA

Ministro da Pesca e Aquicultura

É com uma massa de 23% de intenções de voto que o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Marcelo Crivella, atual ministro da Pesca e Aquicultura, pretende lançar-se novamente ao desafio de disputar as eleições para o Palácio Guanabara, como candidato do PRB. Fugindo das polêmicas sobre a bancada religiosa no Congresso Nacional e a crise de popularidade do governador Sérgio Cabral, Crivella disse, em entrevista exclusiva ao Brasil Econômico, preferir levantar a bandeira da “modéstia, do idealismo e da renúncia às vaidades pessoais” para atrair novos eleitores especialmente os mais jovens. Para Crivella, o Rio vive, hoje, um melancólico “crepúsculo da vida pública”. O caminho, diz o bispoministro, é “um choque” de serviços públicos: “As pessoas querem hospitais, escolas e segurança padrão Fifa”. No Ministério, da Pesca, que assumiu sem saber “prender a minhoca no anzol”, vê um grande futuro: “A produção de peixe será o novo pré-sal”.

Aline Salgado, Fernando Molica e Rozane Monteiro dizem que o senhor é candidato pela presidenta Dilma?

22_11_13_destaque01_rj_crivella_fala_sobre_precandidatura_governo_rio003M.C – Estou sendo candidato a pedido do povo. As pesquisas mostram que eu tenho 23% das intenções de voto. Esse foi o chamamento. Nenhum homem público, num momento de convulsão da vida pública do meu estado, pode se negar a esse chamado.

Por que você quer ser candidato ao governo do Estado do Rio?

M.C – Quero ser candidato, aliás, já quis antes, porque o Rio de Janeiro tem um espaço importante para construirmos o que eu diria ser um espírito de governo. A civilização fluminense não tem sido bem representada nos seus ideais e nas suas tradições e na sua maneira de fazer política. A política no Rio de Janeiro se limita hoje a leis e obras. Mas o que dá destino a um povo é mais que isso, é o espírito de governo. A política no Rio de Janeiro já foi mais idealista. Os políticos tinham mais renúncia, mais espírito público. Vivemos uma época em que a política não tinha escândalos, mas tinha idealismo, tinha doutrina e inspirava pessoas. E as pessoas naquele momento se orgulhavam dos seus políticos. O Rio de Janeiro vive, nesse momento, um melancólico crepúsculo da vida pública, porque os escândalos acabam se sucedendo e trazem desalento.

A que escândalos se refere?

M.C – Acho que é hora de tirar o marketing e colocar a gestão. Cabe à minha geração de políticos voltar à vida simples e à vida modesta, se devotar à solução dos graves problemas. No Rio, são 16 milhões bradando por saúde, segurança e educação. Precisamos encontrar nossos caminhos. Não podemos viver nessa situação, em que as pessoas não acreditam na política.

A bancada evangélica costuma ser considerada preconceituosa, mas, por outro lado, também sofre preconceito. Essa situação já melhorou?

M.C – É no debate, democraticamente, que vemos quais são os melhores caminhos. Cada um tem a sua posição e ganha a maioria. Cabe à minoria respeitar. Mas é preciso separar política de religião, e o Estado da Igreja, com respeito a todos.

Não é justamente a bancada evangélica que faz questão de misturar a religião com a política e levar os argumentos religiosos para a política?

M.C – Acho que a defesa pela vida e pela liberdade religiosa é um argumento político. Pelo que sei, a bancada religiosa defende a família, a vida e a liberdade religiosa não só para os evangélicos, mas para católicos, espíritas, muçulmanos, budistas, hindus. É um argumento político e não sectário. É a defesa do ideal de um bem comum para todos. Claro que isso tudo sujeito a voto. E o voto é a expressão da maioria.

Você fez uma crítica indireta à política…

M.C – Está na hora de dar uma página virada à política.

O que você mudaria? Qual seria sua prioridade à frente do Governo do Rio de Janeiro?

M.C – O Rio precisa fazer um choque de serviços públicos. Precisamos fazer com que o Estado ofereça a seus cidadãos uma qualidade de serviços públicos à altura do nosso desenvolvimento econômico e social. Uma segurança e uma educação não aquém dos investimentos feitos na indústria de transformação, petróleo e gás, na Copa do Mundo e nas Olimpíadas. As pessoas querem hospitais, escolas e segurança padrão Fifa. O que dá sentido a um povo é o espírito de governo, de servir, de estar preocupado com as pessoas, mais do que com as obras. Priorizar pessoas é fundamental para que a política tenha respeitabilidade.

O eleitor entende as alianças políticas entre governo federal, estadual e partidos ?

M.C – Ele sabe que a conjuntura política exige disputa e debate. Mas o eleitor do Rio de Janeiro deve se lembrar que essa construção da aliança entre estado e governo federal passou pelo Crivella. É bom lembrar que, quando senador, Sérgio Cabral era de oposição. Ele votava radicalmente contra o Lula e não esporadicamente. Até que veio a disputa para a eleição no Rio, com o apoio de Anthony Garotinho. Se Cabral se elegeu, deve muito ao apoio de Garotinho à época. Mas essa não foi uma vitória de primeiro turno, foi uma eleição de segundo turno. Quando Cabral veio buscar o meu apoio, eu o condicionei a uma aliança com Lula. A primeira vez que o governador foi ao Palácio (Alvorada), quem levou fui eu. E foi exatamente com o meu apoio que essa aliança se deu. Tivemos aqui muitos governos de oposição e o Rio de Janeiro foi se esvaziando. Tenho consciência desse meu papel para o povo do Rio, em efetivar essa aliança. Mas nunca a condicionei a nada, a um cargo sequer. Pedi pensando no povo.

Com quem há espaço para conversar sobre alianças?

M.C – Com todos. Tive conversas com o PSDB, o DEM e outros partidos com os quais tinha afinidade e que tivessem afinidades com o presidente Lula e a presidenta Dilma. Sou um candidato que precisa de apoio. Mas, pelo meu espírito conciliador, viso a uma união em prol de propostas e projetos de interesses públicos, e não dos meus interesses.

Mas o sr. já está pedindo apoio, antes das eleições?

M.C – O apoio não precisa ser no primeiro turno, pode ser no segundo. Mas na política não se pode deixar para a última hora.

Como o sr. vê as prisões recentes do mensalão?

M.C – Como ministro, não posso comentar decisões da Justiça. Mas, pessoalmente, vejo com imensa tristeza as denúncias, o financiamento milionário de campanhas. E isso acaba trazendo desalento para a dona de casa. Os políticos precisam sair da ribalta, da frente do palco. É preciso voltar à modéstia, ao desapego, à renúncia e ao idealismo. Não cabe à nossa geração ter esse espírito fanfarrão. O Rio, na calamidade da saúde e da segurança, quer um gestor devotado à causa pública.

Há um evidente desgaste da imagem do governador Sérgio Cabral no Rio de Janeiro…

M.C – Da política em geral…

Você acha que esse desgaste na imagem do governador vai ajudar os adversários e prejudicar o Pezão, vice-governador e précandidato do PMDB à eleição estadual?

M.C – O PMDB cumpriu um ciclo. O desgaste, seja de A ou de B, é por conta da longevidade no poder. O político precisa saber a hora das novas lideranças. Sobretudo os políticos de ribalta. Esses que vivem mais no foco, acabam se desgastando mais. Tenho a impressão de que esse ciclo vai ser substituído. Acho que o povo fluminense está mais conservador, devido às manifestações que nos assustaram a todos, ao índice de violência, à falta de serviços públicos em saúde e educação. E isso vai ser decisivo no silêncio das urnas.

Falando do Ministério da Pesca, o sr. já entendia de peixe antes de chegar à pasta em fevereiro do ano passado?22_11_13_destaque01_rj_crivella_fala_sobre_precandidatura_governo_rio002

M.C – Você quer saber se eu já tinha colocado a minhoca no anzol? Quando eu assumi o Ministério, a rádio Jovem Pan me perguntou se eu entendia de peixe e eu disse que não sabia colocar a minhoca no anzol. Isso virou manchete de vários jornais., (risos). Mas o fato é que, quando cheguei no Ministério, tínhamos quatro parques aqüíferos, dois implantados e dois dependendo de licença ambiental, numa pasta com custeio de R$ 100 milhões por ano. O BNDES diz que a produção de peixe em cultivo é o novo pré-sal do Brasil. E é mesmo. Bota aí 20 milhões de toneladas, que é a perspectiva que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) dá para 0,5% das águas da União. Logo, 20 milhões de toneladas são 20 bilhões de quilos; se colocarmos o preço do quilo a RS 6, estamos falando de R$ 120 bilhões por ano, o que não é pouco, é um novo pré-sal.

Quantos parques aqüíferos já foram licitados?

M.C – Na minha gestão, lancei dez parques no mar e mais cinco em água doce. Garanto a você que sob minha gestão já estamos implantando parques para produzir mais de 1 milhão de toneladas, só em águas da União. Se você me perguntar onde vamos crescer na agroindústria no Brasil, vou te dizer: no peixe. As demais áreas já estão saturadas. Sobretudo, se “consorciarmos”. Já imaginou se, antes de molhar o cultivo de arroz, trigo ou soja, pegarmos a mesma água e colocarmos em grandes reservatórios para cultivar peixe, onde o cocô e o xixi do animal vão melhorar a produção de grãos? Uma integração, esse é o nosso caminho.

Os parques aqüíferos hoje já são pensados de forma integrada?

M.C – Não, os parques aqüíferos são uma reforma aquária, onde é feito o loteamento das águas da União para a produção de peixe e a outorga é dada por 20 anos. O uso duplo da água para peixe e plantio é um segundo passo. Depois de consolidar os parques aqüíferos, o passo seguinte é consorciar a produção de grãos com peixe. Aí o Brasil vai ser realmente um grande player para disputar mercado.

Mas qual é o estágio do projeto?

M.C – Estamos conversando com proprietários, fazendo estudos, verificando que capital vai financiar isso, se seria por meio do BNDES, fundos de pensão. Mas todos vêem nesse programa uma perspectiva extraordinária.

Qual é o grande problema do nosso país que faz com que a população consuma pouco peixe?

M.C – Preço e comodidade. Para melhorar o preço, nós temos que aumentar a produção, e para isso, a presidenta Dilma tomou três medidas importantíssimas. O Plano Safra, com R$ 4 bilhões para financiar; a desoneração do peixe; e a descomplicação do licenciamento ambiental. Com essas três medidas, a produção de pescado vai aumentar muito. Não quero arriscar, mas acho que vamos encostar em 2 milhões de toneladas no ano. Nosso grande desafio é dar um caráter industrial à cadeia do pescado, como foi feito com o frango. É isso que está se fazendo nos parques aquíferos. Acabei de lançar um em Tocantins com 280 pequenos produtores que ganharam um hectare de lâmina d’água para colocar suas gaiolas e mais seis empresários que pagaram pelo uso da água e ganharam áreas para estabelecerem suas unidades de beneficiamento. Essa é a idéia, assim teremos filé de pescado em abundância no mercado.”

 

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