Da indignação à transformação

Paulo Cesar Oliveira é presidente da Fundação Republicana Brasileira – FRB.

Publicado em 5/10/2015 - 00:00 Atualizado em 5/6/2020 - 14:58

Reconheçamos que o noticiário político não está bom. O país está vivendo uma crise profunda. Nossas instituições estão sob o mais forte teste, com denúncias de corrupção, retração econômica, desemprego e desconfiança, chegando ao extremo de podermos viver o segundo processo de impeachment em menos de 25 anos.

Com tantas coisas ruins ameaçando nossas conquistas recentes, é natural que fiquemos revoltados. Aliás, a indignação se tornou um sentimento instantâneo e impulsivo frente aos mal feitos de hoje, para usar uma expressão da moda. Recentemente, em uma entrevista a um jornal, a ministra do STF Carmen Lúcia declarou que “o brasileiro está aprendendo a se incomodar”.

Não há dúvidas de que se incomodar é importante, especialmente, quando se trata de uma democracia que ainda dá os seus primeiros passos, como é o caso do regime brasileiro. Entretanto, a indignação não pode se encerrar em si. Tão pouco deve se transformar em alienação, algo que também pode soar de forma natural: “Ah, não quero saber de tanta coisa ruim. Por isso, não quero saber de política nem votar eu quero mais”. Você já ouviu alguém falar assim?

A indignação é o começo. A partir daí, temos uma escolha à nossa frente. O que fazer com cada provocação que recebemos? Acredito fortemente que o segundo passo é o questionamento. Afinal, para que possamos agir, é necessário que estejamos bem informados (e formados) sobre as causas efetivas dos nossos problemas.

Por quê alguns políticos sentem-se tão livres para cometerem crimes? Por quê a justiça parece rigorosa demais para alguns e paciente demais para outros? Por quê alguns grupos recebem atenção do Estado e outros não? Por quê o governo custa tanto? Por quê pagamos tantos impostos? Qual o meu papel nisso tudo?

Toda ação, para ser efetiva, deve ser precedida de reflexão. Assim como ficar em casa remoendo a raiva não resolve nada, sair às ruas destruindo as coisas também não colabora muito. É preciso aprender a fazer as perguntas certas, identificar os meios mais adequados de manifestar os sentimentos e os interesses, buscar pessoas para agir em conjunto e, assim, contribuir de forma efetiva e inteligente para alterar o curso das coisas.

Às vezes, fazer a pergunta certa é tudo, como demonstrou Isaac Newton, ao se questionar sobre o motivo de uma simples queda de uma maçã de uma árvore! Todos sabemos o que veio depois…

A indignação é um sentimento precioso, desde que encaminhe o cidadão para o processo correto de questionamento, reflexão e ação. Os brasileiros ainda precisam transformar a enorme energia crítica das manifestações de rua em um esforço reformista e criativo. Quando isso finalmente acontecer, poderemos dizer com segurança que aprendemos a reverter os incômodos do dia a dia no combustível para a mudança saudável da sociedade.

*Paulo Cesar Oliveira é presidente da Fundação Republicana Brasileira

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