Direito não é vingança!

Artigo escrito por Márcio Marinho, deputado federal pelo PRB Bahia

Publicado em 13/5/2017 - 00:00 Atualizado em 5/6/2020 - 13:43

O Brasil completa hoje, 13 de maio, 129 anos da abolição da escravidão.

Ao olhar para trás, pensando nos tempos das correntes e do tronco, a nós, povo do século XXI, parecem distantes essas memórias ancestrais. Porem, são bem mais próximas do que podem parecer.

Foram 300 anos de escravidão no Brasil. Então, não equiparamos nem em termos de quantidade de séculos nem em termos da qualidade de vida que almejamos. Li uma poesia de Rodrigo Almeida, no site colaweb.com, que reproduzo aqui:

“Não vos alerto por represália
Nem cobro meus direitos por vingança.
Só quero
Banir de nossos peitos
Esta goma hereditária e triste
Que muito me magoa
E tanto te envergonha”.

O que quero ressaltar nesta data é que nós, negros do Brasil, não nos ressentimos pelas dores dos nossos ancestrais, nem nos envergonhamos de ser quem somos.

Negros de cor e de alma, não negros de alma branca. Nos ofende quererem nos branquear como se fosse ofensa termos a pele negra. Somos iguais a nós mesmos e diferentes dos que não são iguais a nós.

Porém, não nos desqualificam as nossas características e nem absorvemos as iniquidades a que estamos expostos em um mundo que ainda persiste em trazer à nossa memória as tristezas de outrora.

O incentivo à imigração europeia, nas primeiras décadas do século XX, com a promessa do governo da época de branquear o Brasil, foi muito mais do que uma decisão de estado. Foi uma forma de manter a população negra em um status de sub-raça, negando-lhe o direito de serem tratados como cidadãos.

Os negros libertos continuaram sem condições de prover a sua subsistência como livres, assim como eram quando escravos.

Tornando-se párias, na terra da diáspora, as legiões de negros errantes inundaram as cidades. Muitos pereceram de fome, frio e doenças. A vingança por causa da abolição aconteceu.

Os donos de escravos sentindo-se expropriados, ao terem as suas “propriedades” humanas retiradas de seu poder, responderam ao insulto. O governo, ignorando esses filhos como se bastardos fossem, os fez invisíveis na dor.

Mas esse povo, forte e nunca subserviente, se levanta e luta. Temos tantos nomes a homenagear. Citarei um, que representa todas as nefastas lembranças de um período tenebroso e também as lembranças de que a perseverança vence e a justiça triunfa: Luiz Gama. O maior baiano entre todos os baianos. Nascido livre, filho de Luisa Mahin, negra liberta, e de um fidalgo português, foi vendido como escravo aos 10 anos, pelo próprio pai, para saldar dívidas de jogo, e levado para o Rio de Janeiro.

Aprendeu a ler na adolescência e descobriu a sua origem ao ler o seu registro de nascimento. Tornou-se estudante de Direito, mas sem direito a diploma. Por causa da sua cor, não foi admitido na academia. Como Rábula, advogou pelos direitos dos negros e ao fim da vida, libertou, sob a luz da Lei, mais de 500 escravos.

Usou a letra fria da justiça para fazer valer direitos inalienáveis a todo ser humano. Luiz Gama é um nome a ser lembrando por todos os séculos, por cada pessoa que pensa em um mundo justo para todo negro, todo branco, todo brasileiro.

*Márcio Marinho é deputado federal pelo PRB Bahia

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